Ruptura. Essa a palavrachave para o cenário atual em todas as frentes no Mundo todo. Muito do queligava, rompeu-se abruptamente. Romperam-se: os apertos de mão, os abraços, ostapinhas nas costas, o falar pertinho, as reuniões a portas fechadas, as aulaspresenciais, as palestras, os programas de auditório, os ofícios religiosos, oalmoço de família aos domingos, os churrascos em feriados e fins de semanaentre aqueles mundões de amigos ... Bem, a lista é infinda.Nas empresas, romperam-sea convivência diária no escritório, já que muitos foram para o home office;as reuniões entre setores; a revisão cara-a-cara dos resultados e desempenho. Oconvívio nos refeitórios, as brincadeiras de toques, a fila apertada no cartãode ponto, as trocas de informações no cafezinho, tudo trocado pordistanciamento. Mudaram normas e regras: a venda por telefone, antes proibida,agora é norma; as visitas a Clientes é que estão proibidas. Trazer pessoas paraconhecer a empresa, antes norma, agora, proibido. Treinamentos presenciais,dentro e fora da Empresa, substituídos por EaD ou AaD, ou até o TaD.No entanto, um fatorcomum premeia o ambiente familiar, pessoal, e o Organizacional, coletivo: adesinformação! Nunca antes tivemos tantas mensagens trocadas, tanta notíciaimediata, tantas opiniões, tantos fatos comprovados. Mas nunca tivemos tantasnotícias falsas, notícias enganosas, fatos deturpados, estatísticas enviesadas,normas de comportamento conflitantes. Nem bem começa um acontecimento, já outrosurge, e outro e outro: vírus, Antifas, BLM – Black Lives Matter, Apagar oPassado Politicamente Incorreto, pedir perdão aos que meus ancestrais magoaram,e por aí vai. O ambiente resultante, em todo o Mundo, está sendo de enfrentamento,de animosidade, de conflitos e até de ódios. A polarização, ideia que antesremetia a “dois polos”, duas posições opostas, a partir de agora traduz vários“polos”, várias posições opostas, pode-se dizer que “todos contra todos”. Olema dos Três Mosquiteiros de Dumas, “Um por todos, todos por um”, passa a ser“um contra todos, e todos contra um”.É dentro de cenárioconfuso e tenso que se encontra nosso objeto de interesse neste artigo: aOrganização e seu Líder nesses tempos de Pandemia.Uma empresa, enquadradanas essenciais, para a qual presto Consultoria fez uma reunião com todos osseus colaboradores logo no primeiro dia do confinamento. Uma reunião proposta,aprovada, preparada e treinada pelo “grupo de crise”. Os dois sócios à frente.Começaram dizendo que iríamos viver dias muito difíceis, viver imensosdesafios, que nos marcariam para toda nossa vida. Teríamos todos que fazersacrifícios. Mas que, ao final, nossa empresa sairia mais forte, e nossa equipemais competente e aguerrida. A meta nesse período era preparar a empresa para aretomada. Faturamento, inadimplência, despesas e custos foram mostrados emgráficos e números reais. A queda de receita foi projetada, e com base nela, anecessidade de reduzir custos e despesas. Anunciaram a primeira despesa a sercortada: o pro labore dos sócios, integralmente. Os funcionários iriam ter a jornada detrabalho reduzida, e seus salários proporcionalmente. Os funcionários foramorientados sobre as alternativas do Governo para recompor suas rendas, comodeviam cadastrar-se e quando iriam receber. Os Gerentes e outros profissionaiscom rendimento maior foram solicitados a contribuir com cortes maiores. Aadesão foi total. Até surpreendentemente total.Além disso, horárioreduzido no atendimento. Home office. “Podem levar os notebooks daempresa?” Sim, mas cuidado... Quantasperguntas. Como fazem faltas referenciais. Quem já fez isso? Vamos adiante. Mas, tanto oscolaboradores quanto os Líderes tiveram que se reinventar. Desaprender o quesabiam. Aprender o que ninguém ainda sabe. Desconstruir e construir. Sem tempo,sem parar. Já.Como manter produtivasas pessoas que não estão no escritório? Como saber se o que precisa serentregue ao Cliente amanhã cedo está sendo feito? Feito certo? Como acompanhomeu pessoal e seu trabalho? O trabalho remoto nunca havia sido testado!Ah! Mas tem o Whatsapp,o Telegram, o Skype, o Messenger, etc... Sim, mas e se o Líder não ouve o sinaldo smartphone e só vai ver a pergunta uma hora mais tarde? E se tem telefonemase textos demais para ler? E se o técnico dormir até tarde e não terminar seulaudo? Será deselegante ligar para ele? Afinal, é a casa dele, não oescritório. E se a esposa ou a filha atender? Todas essas questões tiveram queser enfrentadas. E estão sendo enfrentadas.Um dos sócios começou afazer acompanhamentos de sua casa, via vídeo. Via se as pessoas estavamvestidas para trabalhar, mesmo que mais informalmente. Via se estavam mesmotrabalhando. E pedia retorno e perguntas a ele. Outras lideranças fizeram omesmo. Assim, o acompanhamento individual foi feito, e se revelou muitopositivo, pois a aspecto “fiscalização” desapareceu e em seu lugar entrou atroca de ideias e a colaboração, o interesse e a atenção da liderança querendoajudar. Há trocas de recomendações de lives e cursos rápidos EaD, entretodos. As lideranças têm recomendados lives durante o horário detrabalho, e cobrado o aprendizado. Os sócios comentam as lives que elesassistiram e os cursos que fizeram ou estão fazendo.Notícias importantes são comunicadas em grupode Whatsapp. Todos os dias, orientações sobre cuidados a serem tomadosem termos de higiene, proteção individual, cuidados com as pessoas. Reuniõescom clientes e fornecedores são feitas via Zoom ou Skype ou outro aplicativo.Curiosamente, os horários têm sido cumpridos. Os comunicados mais críticos erelevantes são feitos em reuniões – agora com espaçamento recomendado, e demaiscuidados.Logo no primeiro dia,todos receberam EPIs para a pandemia, e como orientar e lidar com os Clientespresenciais. As máscaras receberam o logo da Empresa. Depois, para os maisexpostos, os Face Shields também com o logo da Empresa. Mas, tem sempre um quevem com uma máscara diferente, com escudo de seu time, ou uma caricatura ...Sem problemas.Mais que em qualqueroutra época, os sócios estão junto aos colaboradores a maior parte do tempo,quer presencialmente quer via digital. Vários processos foram mudados, e abusca de eficiência aumentou. O moral está elevado. Comunicados para os Clientestem sido elogiados, pois um “moto” forte foi criado e está sendo semprerepetido, de confiança no País e nas pessoas. Os colaboradores estão orgulhososque sua empresa está sendo elogiada. Mesmo o desligamento de um colaborador foiabsorvido de forma positiva, pois tudo foi feito muito às claras. No auge doconfinamento, a empresa abriu uma filial. Isso confirmou a confiança no futuroque os sócios falaram na primeira reunião.Dois fatores críticosse destacaram nesse período: o exemplo dos líderes e a visão de futuromanifesta e demonstrada. Num país culturalmente“viciado” em privilégios e favorecimentos, quando a liderança dá o exemplo,parece que há um choque.O Empresário, o Gestor,o Administrador brasileiros devem compreender que o maior nível educacional damédia das pessoas e apenas sua exposição a movimentos por maior conscientizaçãode sua cidadania fatalmente levarão os colaboradores a perceberem mais que overdadeiro Líder dá o exemplo. Modela. Orienta. Estabelece a maneira de ser.Estimula comportamentos. O dito: “faça o que eu digo, não faça o que eu faço” ,está fadado ao escárnio e ao descrédito, se é que ainda não foi enterrado. OLíder verdadeiro “demonstra o que se deve ser”. Vive suas palavras. Tangibilizaseus valores. Assim, de tanto agir com base no que crê, seus valores tornam-sesua personalidade, e daí o comportamento fica em sintonia com as atitudes, osvalores. Resultado: competência!O outro quesito é avisão de futuro. Não aquela transcrita em todo Plano de Negócios: ser referência... blá, blá, blá. Mas um verdadeira e honesta antevisão de como será a Empresaem um ponto futuro, digamos, ao fim da pandemia, ou do confinamento. Como seráa empresa? Como estarão seus colaboradores nesse cenário futuro? Falar sobreisso é importante. Sempre. Em cada oportunidade. Em cada mensagem do whatsapp.Mensagens com o conteúdo relacionado ao que se quer que a Empresa seja. Nada depiadinhas sem relação com nossos negócios. Até as piadinhas devem estar emsintonia com o que se espera dos colaboradores e como se vê o futuro daEmpresa. Nada de cobranças individuais no Grupo. Mas elogios, sim: “o Fulanoconseguiu fazer tal coisa junto ao Cliente tal. Parabéns, Fulano!” Mensagens defundo político, nem pensar! A Empresa tem que ser neutra. Cada um tem seuposicionamento político e ideológico, mas a empresa não tem partido. Mantenhaseu time unido e coeso em torno do futuro da empresa, que é o futuro de todos.Frequentemente lemosque o momento é de desaprender e reaprender. Sim. Os meios de comunicação nuncaforam tão importantes para as Empresas e seus Colaboradores e Clientes.O que permanece é oconceito de Liderança: “a habilidade de influenciar pessoas para trabalharementusiasticamente visando atingir os objetivos identificados como sendo para obem comum”. (Hunter, J.C. O monge e o Executivo. P. 25, Rio de Janeiro,Sextante: 2004)O maior desafio dosLíderes, hoje, é aprender a utilizar os mais variados canais de comunicaçãopara implementarem os mesmos princípios que cercam esse papel.