O tema das monografias são escolhidos por diversos motivos e, muitas vezes, por conta de dificuldades vivenciadas no dia a dia. E foi exatamente esse o motivo da escolha do tema “Desafios para a inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho frente aos direitos fundamentais”, feito pelo aluno da Toledo Prudente, Thiago Ceribelli Peruque.
O aluno do curso de Direito, 26, tem deficiência visual e mobilidade reduzida. As múltiplas deficiências foram provocadas por toxoplasmose congênita. Sendo assim, ao decorrer dos anos, Thiago presenciou dificuldades em todos os âmbitos da vida, inclusive quando estava para entrar no mercado de trabalho.
“Eu escolhi a temática exatamente por conta das dificuldades que eu encontrei quando fui tentar entrar no mercado de trabalho, com 18 e 19 anos, e eu não conseguia. Até por esse motivo que escolhi o próprio curso de Direito, com a possibilidade de conseguir um concurso público e uma estabilidade financeira”, conta, Thiago.
Além da vivência, o aluno crê na possibilidade do seu trabalho dar voz para aqueles que ainda passam pelas dificuldades de inclusão. Para ele, após estudos realizados durante a pesquisa, a melhor opção seria o teletrabalho para aqueles que possuem algum tipo de deficiência.
No Brasil, de acordo com dados do último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há aproximadamente 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, porém, pouquíssimas delas estão inseridas no mercado de trabalho.
“Tem-se que o teletrabalho é um facilitador no que diz respeito à locomoção das pessoas com deficiência. Dados demonstram que, em 2019, havia 523,4 mil pessoas com deficiência no mercado formal de trabalho, número 7% a mais do que no ano de 2018. É certo que houve uma ‘desaceleração’ e demissões dessas pessoas por força da pandemia de coronavírus. Porém, aos poucos, se avança em busca de melhores condições para as pessoas com deficiência”, explica Thiago.
Um fator negativo do teletrabalho seria a falta da inclusão social, afinal a pessoa não iria até a empresa. Porém, uma solução seria o trabalho híbrido, ou seja, trabalhar presencialmente algumas vezes na semana.
“Isso fará com que ela [a pessoa com deficiência] conviva com outras pessoas, propiciando a inclusão social, e fará com que se beneficie dos pontos positivos dessa modalidade de trabalho, tais como a plena acessibilidade, realizar o trabalho do conforto de seu lar e, acima de tudo, trabalhar. Afinal de contas, esse é o grande anseio da imensa maioria das pessoas”, afirma, Thiago.
Dificuldade além do mercado de trabalho
Antes mesmo de pensar em trabalhar, Thiago já passava por dificuldades. A primeira dela ocorreu já nos primeiros meses de vida.
“O meu primeiro desafio foi provar que eu não seria um paciente vegetativo, pois foi esse o primeiro diagnóstico. A minha evolução foi surpreendente para a medicina. Apesar do meu desenvolvimento ter sido fora do padrão, comecei a andar com 5 anos, por exemplo, ainda sim foi algo que não esperavam”, conta o futuro bacharel em Direito.
Já nos anos de escola, Thiago destaca a importância que os professores tiveram em seu aprendizado, em uma época que ainda não eram preparados para lidarem com as crianças especiais.
“Eu não tive professores, tive verdadeiros heróis, porque eu peguei o início da inclusão social da pessoa com deficiência na escola. Naquele tempo, não haviam exigências e não tinham especializações para que pudessem lidar comigo da forma mais correta. Muitas vezes, vinham até mim e perguntavam a forma como era melhor trabalhar comigo, mas eu estava ali para aprender, para ser ensinado. A sala de aula sempre lotada também foi uma dificuldade porque, normalmente não havia professor auxiliar”, lembra Thiago.
E quando o assunto é inclusão e acessibilidade, Thiago, coloca que a sua primeira experiência vivida em ambos os fatores, aconteceu na Toledo Prudente.
“No Centro Universitário, desde o começo, eu tive acesso a política de acessibilidade e acolhimento, então sempre contei com materiais adaptados, professores interessados e que sempre demonstraram empatia. A Toledo Prudente sempre se mostrou aberta para me entender e me ajudar, por isso sou muito grato por esses anos vivenciados no Centro Universitário”, conta, Thiago.
E, em todos os momentos de dificuldades, Thiago encontrou o apoio familiar para que tudo ganhasse um pouco mais de facilidade.
“Todo esse caminho percorrido só foi possível graças a minha família. Minha mãe, tia, avôs, sempre me apoiando e me acolhendo, nunca permitindo que eu rejeitasse ou não conseguisse vencer em alguma situação”, finaliza, o aluno.